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"A alma que não se abate, que recebe indiferentemente tanto a tristeza como a alegria, vive na vida imortal."Fonte - Bhagavad-Gita

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Saboreando o vento, escutando a água Por Karen Olson

Durante o meu ano de colégio eu sonhava acordada com as montanhas. Quando eu supostamente deveria estar estudando Historia da Arte, eu me encontrava desenhando pinheiros nas margens de meu caderno. Eu estava sempre alegre quando me encontrava pulando entre árvores, e eu cresci apaixona da pela idéia de passar um ano trabalhando ao ar livre antes de começar a ter que fazer o que me parecia inevitável: Viver sentada em uma mesa de trabalho.

No inverso seguinte eu aterrissei na Carolina do Norte (USA), onde trabalhava como garçonete durante a noite e tive sorte suficiente para conseguir um trabalho como guia de esqui na neve. Eu saboreei todas as horas que fui capaz de passar sobre a neve, me tornando uma grande e séria conhecedora de músculos, percebendo o cheiro da rocha molhada, saboreando o vento. No verão eu trabalhei para a U.S. Forest Service. Eu passei meus dias num mundo silvestre e selvagem, tendo que lutar contra incêndios, e por algumas semanas eu me vi pendurada em cordas sobre rios em montanhas geladas contando peixes. Eu me encantei com as experiências que testaram minhas capacidades físicas e como meu corpo foi capaz de realizar todas as tarefas.

Então como era previsto, eu comecei a trabalhar em um escritório sentada em frente a um computador. Embora eu gostasse de meu trabalho e de meus colegas, meu corpo sofria por passar 40 horas por semana sentada em frente a tela digitando. Meus olhos doíam. Meu pescoço doía. Eu me sentia acabada, cansada. Acima de tudo, eu perdi o sentimento, a sensação-especialmente, a sensação de me sentir bem. Então eu me demiti, fiz empréstimos, fui para uma escola de massagem. Lá eu era massageada e alongada por outros estudantes todos os dias durante seis meses, e eu experimentei uma outra forma de despertar fisicamente. Eu me tornei mais atenta aos meus apelos internos, algumas vezes prazerosos e outras vezes estressantes, para minha interação com o mundo.

Eu continuei nesse caminho de exploração. Através dos anos seguintes, apenas pesquisando e observando sempre, eu aprendi a cozinhar assistindo os chefes de cozinha e sentindo o cheiro dos molhos enquanto eu servia as mesas como garçonete nos restaurantes; tive experiência de trabalhar em vinícolas do vale Central da Califórnia; na primavera quente fui alpinista indo ao topo das montanhas; garimpei pedras preciosas para joalheiros; me tornei familiarizada com o gosto da seiva como também cortei lenha para fazer fogo.

Eu passei três meses num acampamento nas praias Australianas fazendo nada mais do que absolutamente nada, ganhei dinheiro suficiente para viver cantando em restaurantes com um amigo viajante onde ganhávamos 50 dólares e uma deliciosa refeição.

Eu vejo agora que sem realmente saber o que estava fazendo, ou porque, eu me encarreguei de ter tido uma educação sensorial. Respirando a vida através de todos os meus sentidos, não somente minha mente e meus pulmões, mudaram o jeito que eu experimentei o mundo. Eu vi as cores mais brilhantes, tive fortes lembranças, e me tornei mais receptiva para com as outras pessoas.

Eu nasci nos anos 60 como produto de um romance do mundo moderno, porém com um cérebro. Eu aprendi logo cedo como usar a lógica acima da inteligência sensorial “ Fatos acima dos sentimentos”. Em outras palavras, eu aprendi como viver bem em minha cabeça – não através do meu corpo, e certamente não através do mundo.


Os corpos humanos são desenhados para se movimentarem. Nossos sentidos ajudam nossa parte física a navegar pelas redondezas. Mas a maioria de nós no mundo moderno raramente confia em deixar que nossos sentidos encontrem nossas necessidades básicas.
Nos não precisamos sentir o aroma das frutas silvestres na floresta, ou ouvir o som de um alce se movendo vagarosamente entre a relva crescida para encontrar comida. Nós temos virtualmente predadores não naturais para fazer isso.

Para compensar toda essa inatividade sensual, nós temos tornado a procura pela sensação em uma indústria: Alguns de nós procuramos ou filmes de terror, alguns vão para esportes radicais, escalando montanhas ou saltando de para quedas; e ainda há aqueles que tomam café expresso durante o dia todo ou engolem um ecstasy. Em vez de usarmos nossos corpos e nossos sentidos para nos mantermos vivos, nós os temos relegado para nossa diversão.

Ao mesmo tempo que muitos de nós estão parados quase paralisados durante o decorrer do dia – no trabalho, no carro, na escola, em frente aos televisores e computadores – nossos sentidos, particularmente nossos olhos e ouvidos, se sentem massacrados pelo mundo moderno e diariamente assaltados pelo barulho, velocidade, mídia, poluição, e super estimulação de todos os tipos. Nós estamos acostumados a bloquear tudo isso – tanto fazendo alguma coisa entorpecida pela dor ou ignorando tudo ao mesmo tempo.

“ Por muitos anos, a perda de audição tem como causa central o excesso de barulho”, Astúrias no YES reporta. “Muitas evidências de qualquer modo, sugerem que um som irritante e intruso está ligado a problemas como pressão alta, baixa produtividade, e altos níveis de colesterol.”

Nós ficamos também paralisados em frente á televisão. De acordo com a mais recente pesquisa feita por A.C Nielsen Co., a média de horas que os americanos assistem TV por dia  é de 3 horas e 46 minutos, ou seja o equivalente a mais de 52 dias completos de horas por ano. Isso quer dizer que uma pessoa ao atingir 65 anos de idade, que corresponde a média de vida de uma americano, terá passado perto de 9 anos grudado na televisão.

Joseph Chilton Pearce, autor de “ The Crack in the Cosmic Egg” , professor em inteligência humana, criativa   e aprendizado. Ele é preocupado principalmente com a mente das crianças que assistem televisão. Numa recente entrevista para revista “ Journal of Living”, ele explica que as crianças são facilmente hipnotizadas por estímulos visuais que tenham cores vibrantes, como a televisão. Para manter a criança interessada e acordada, a industria televisiva introduziu “efeitos vibrantes, especiais, muito coloridos”, Pearce afirma. “As mentes infantis gradualmente se acostumam a esses efeitos. Como resultado, temos visto que a indústria televisiva nos últimos anos fez com que esses efeitos especiais se tornassem cada vez mais apelativos, até que finalmente hoje tenhamos uma explosão de violência imaginária.” Pearce reclama que essa estimulação massiva está causando um retardamento do desenvolvimento do cérebro em vários níveis.

Karen Olson não concorda com a afirmação que estamos perdendo nossos sentidos. Hoje professora de dança no Middlebury College e aoutora do livro Body and Earth, afirma.

O que eu penso é mais como se o ser humano estivesse se desassociando de seus sentidos e perturbando o equilíbrio do sistema de nossos corpos, o que faz com que passemos a experimentar um excessivo stress e consequentemente doenças.

Nossa vida diária se torna focada em cumprir crescentes listas justamente para poder cumprir nosso trabalho, nós nunca temos tempo para alimentarmos nossos sentidos. Nutrição sensorial não somente significa mais oportunidades para aproveitar nossas faculdades pouco usadas de toque e cheiro, mas também visão, audição e paladar no mais consciente estilo, em vez de simplesmente reagir ao bombardeamento de estímulos vindos de todas as atividades que nos rodeiam.

Se nós não nos apegarmos ao tipo de sustentação sensorial que precisamos, nós iremos encontrar outros meios de satisfazer essa necessidade.Vivemos num constante descontentamento econômico, com infinitas oportunidades de compras e orgias alimentares, tudo isso sendo usado como uma compensação para o vazio que temos dentro de nós.

Cresce o numero de vendas de antidepressivos, pílulas para dormir, e Ritalin está em alta. Como também o uso do narcótico OxyContin. É como um salvador enviado por Deus para pacientes com câncer, porque somente duas pílulas ao dia aliviam as dores consideravelmente. Mas a National Public Radio reporta que o roubo de OxyContin e a dependência estão crescendo em larga escala. O jornal “ The New York Times” reportou uma matéria na qual de acordo com o governo dos Estados Unidos, Nos Últimos 20 anos nenhuma droga de uso controlado foi tão largamente abusada logo após ser lançada como nos dias de hoje. O que é isso que esse povo não quer sentir?

A resposta pode ser que todos nós queremos calar a mesma coisa – a zoeira da vida  moderna.

Para participarmos inteiramente dessa vida, nós precisamos desenvolver nossa inteligência sensorial – nossa capacidade para melhor reconhecer e entender as mensagens que nossos olhos, ouvidos, pele, nariz e boca estão nos enviando. Isso não é apenas outra forma de nos fazer lembrar que devemos parar para observarmos e curtimos uma flor bonita, ou para sentirmos o cheiro da água salgada do mar. Isso é uma chamada para nos reengajarmos naquilo que nossos sentidos podem nos ensinar a cada momento, lições que esperam que possamos perceber e sentir tanto o belo como o feio. Nós temos que achar um caminho de volta aos nossos sentidos para nos tornarmos conscientes de que tudo que conhecemos é essencialmente um produto deles. Em outras palavras, é tempo para nós embarcarmos em nossa própria educação sensorial. Aqui temos algumas sugestões em como começar:

Acredite em seu corpo:
A maioria das pessoas no mundo industrial não se sentem jamais conectados com sua própria pele. Se eles não estiverem controlando isso, drogando isso, colocando isso em máquinas de exercícios – se eles não estiverem no controle da situação – então eles sentirão que estarão caindo aos pedaços.  Por isso saia deste condicionamento louco, trate a vida com mais facilidade.

Preste atenção:
Huston Smith, um estudante do mundo das religiões, notou que cada tradição espiritual tem praticas para prender a atenção das pessoas. Enquanto na cultura moderna nos somos treinados para produzir, não para prestar atenção, nunca é tarde para começar. Você pode tentar Yoga, Meditação ou os dois.

Fuja de um mundo de uma dimensão única:
Pense sobre quanto do seu dia você gasta olhando fixamente para o vazio: paginas de um livro em branco, a tela do computador, televisão. Enquanto você vê naquela única dimensão talvez atraia sua imaginação e seu intelecto, o ato de fixar seus olhos em uma simples distancia requer que seu corpo fique parado. Liberte-se de seus hábitos. Toque a tela do computador. Cheire as costas de suas mãos. Conheça o mundo dimensional sempre que puder.

Cozinhe uma refeição:
Nossa paixão pela comida de conveniência sufocou nosso paladar com o excessivo uso de açúcar, sal e todos os realçadores de sabor. Sabores sutis não nos apetecem mais. Uma solução simples? Comece cozinhando mais saudavelmente e completo. Dedique um tempo para cortar os vegetais vagarosamente. Saboreie os crus, cheire, preste atenção aos aromas.
Estudos mostram que se você gastar um tempo para cheirar e saborear a comida, você se sentirá satisfeito mais rapidamente. O que você precisa é menos; comer menos, comprar menos, assim vai sentir-se mais energizado. 

Seja realista:
Nós precisamos nos engajar nas tarefas reais, não em jogos sintéticos e estimulações que nos levam a variações comerciais da mesma coisa de sempre para  o resto de nossas vidas.

Seja um construtor, um observador:
Não subestime o valor de não se fazer nada! Grandes artistas, escritores, cientistas, e outras pessoas criativas tem esse fino traço de observador. Através de pequenas observações grandes idéias podem crescer.

Estude seu corpo:
Quais os sentidos que você favorece? Quais você negligencia? O que te coloca para baixo?

Eu penso que é tempo de nós como uma cultura, reconhecermos integralmente que vivemos nesse mundo. Nós estamos conectados com plantas e animais, estações, solo e cada um não importa quantas idéias e imagens e medos estejam rondando em nossas cabeças. E talvez, somente talvez, se realmente acordarmos nossa parte sensorial nós nos tornaremos mais saudáveis, mais conectados com os outros e menos vulneráveis ao estado de degradação do mundo atual. Nem sempre o que está acontecendo ao nosso redor é sempre bonito, há contudo muita coisa a nos encantar justamente do outro lado de nossa pele. Vamos Verificar isso, vamos ser receptivos e deixe o mundo nos surpreender.

Bibliografia.
“Tasting the wind, Listening the Water” by Karen Olson

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