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"A alma que não se abate, que recebe indiferentemente tanto a tristeza como a alegria, vive na vida imortal."Fonte - Bhagavad-Gita

domingo, 29 de abril de 2012

Entendendo os Kosha






O Yoga, em virtude de ser uma ciência, é o direito natural da humanidade, o que implica em não pertencer a nenhuma seita ou grupo de pessoas, nem a nenhum país ou mesmo religião. Eu não estaria errada em dizer que a Índia é a terra do Yoga porque aqui é que este conhecimento foi preservado. Foi nesta terra que este conhecimento foi mantido vivo por muitos séculos entre as turbulências das guerras e da história e, por isso, devemos agradecer a estes grandes seres, os rishis e munis, que foram os cientistas originais deste planeta.
Cientistas são aqueles que, com completa liberdade de mente, sem nenhuma fobia ou noção preconcebida, exploram e experimentam profundamente, dentro das camadas misteriosas do universo e da vida. Neste sentido, os rishis foram cientistas porque eles devotaram inteiramente suas vidas a explorar o terreno misterioso da vida interior. Com a maior honestidade, coragem, sinceridade e dedicação eles gastaram seu tempo desvelando as profundas camadas da mente e da consciência, descobrindo seu poderoso potencial e a fonte de onde tudo se originou. Sim, o crédito de todas estas descobertas vai para os antigos rishis e munis da era vêdica, assim como os créditos dos mistérios da matéria vão para os cientistas da era moderna.
Claro que, naqueles tempos eles não eram conhecidos como cientistas. Eles eram conhecidos como rishi, que significa vidente, ou muni, que significa sábio, ou sannyasin, que significa aquele que entregou a si mesmo à vontade divina. Embora, às vezes, eles sejam confundidos com monges ou religiosos sectários, não é este o caso. Eles podem ter nascido em determinada religião, assim como eu nasci hindu, você muçulmana ou cristã, mas isto não influenciou sua busca do mistério chamado ‘vida’. Quem sabe qual religião eles seguiam naqueles tempos vêdicos pré-históricos? Nós não podemos dizer com certeza, pois sabemos muito pouco sobre aquela época e o que os historiadores nos contam é mera especulação.
Assim como a única realidade que os cientistas modernos conhecem e acreditam é a da matéria, a única realidade que estes cientistas acreditavam era a da consciência. Sua busca inteira era nessa direção, porque eles acreditavam que o propósito da vida era descobrir o infinito, esta realidade que não é submetida a declínio e morte. O finito perece e, após gastar muita energia, o indivíduo finalmente percebe que a fonte deste mundo finito é o que deve ser capturado, pois nela reside a habilidade de gerenciar ambos, o mundo finito e o infinito.
Foi esta magnífica busca, cheia de dificuldades e perigos, que os conduziu ao despertar de vijnanamaya kosha, e é por causa dos registros que deixaram para trás que hoje podemos sentar e discutir este importante tema. De outra maneira, nós nem saberíamos que temos um vijnanamaya kosha!
Os Cinco Koshas
De acordo com a ciência do Yoga, existem cinco koshas ou bainhas, camadas que envolvem este corpo físico, que se parece com o núcleo de uma cebola encoberto por várias camadas. No caso dos koshas, cada um deles é mais e mais imperceptível ao olho nu que o seu precedente. Podemos dizer que estes koshas podem ser percebidos com abertura do terceiro olho, em estado de meditação.
Annamayakosha
O primeiro é annamayakosha, que é a camada física feita de alimento. Anna significa alimento. O grão que você come é chamado anna e o corpo composto de alimento é o que você pode tocar, ver e sentir. Ele é o substrato para os koshas sutis, que também assumem a forma e o tamanho do corpo.
Pranamaykosha
Mais sutil e não visível ao olho nu é pranamaya kosha, o qual em lugar de alimento é constituído de prana ou energia. Você pode supor que seu corpo é envolvido por este campo de prana e quando você deixa esta sala, você vai levá-lo junto. Embora você não possa vê-lo, pranamaya kosha segue você aonde quer que você vá.
Entretanto, se você aumenta sua consciência através das práticas de Yoga, então você verá pranamaya kosha na forma de uma aura que envolve seu corpo. Muitas pessoas nascem com este dom natural. Elas são capazes de ver a aura das pessoas e determinar o que está armazenado nela, porque esta aura muda continuamente de acordo com o seu estado de saúde. Até mesmo seu humor influencia a aura prânica. As frases ‘verde de inveja’ ou ‘vermelho de raiva’ são umas poucas indicações de vibrações emitidas pela aura de acordo com nosso estado mental.
Manomaya kosha
Além de pranamaya kosha, este corpo físico é envolvido por uma energia mais sutil que é puramente mental em sua natureza, conhecido como manomaya kosha. É neste nível de manomaya que o chatushtaya antahkarana, que compreende os quatro órgãos da mente - manas ou mente, buddhi ou intelecto, ahamkara ou ego e chitta ou memória - começa a perceber, analisar, registrar, entender, racionalizar, discriminar, aceitar, rejeitar e comparar, somente para nomear algumas das milhares de funções que ele realiza em nossas vidas sem esforço. Sem manomaya kosha nós não seríamos melhores do que vegetais sentados na prateleira da cozinha!
Este kosha é o assento do conhecimento empírico (para). Ele observa o mundo à volta, e embora um instrumento de consciência interna, ele tem a capacidade de externalizar a atenção assim como de internalizá-la. Quando está sobre a influência dos sentidos, está totalmente ocupado com os impulsos recebido do mundo dos cheiros, sons, cores, toques e sabores. Mas existem períodos, quando insatisfeita com a natureza finita destas experiências, em que a mente salta para dentro e, nesta hora, recebe impulsos do Ser, que recarrega e rejuvenesce manomaya kosha.
Isto acontece no estado de meditação também e é por isso que a meditação amplia os horizontes da mente, afia o intelecto, coloca o ego em sintonia com a natureza e fortalece chitta, a memória.
Vijnanamaya kosha
Além de manomaya ou mente está a camada da intuição ou vijnanamaya kosha. E é desnecessário dizer que ele é mais sutil que todos os koshas precedentes. A Taittiriya Upanishad elucida a existência de vijnanamaya kosha da seguinte maneira: “Separado do ser contido na mente, existe um outro ser composto de conhecimento intuitivo. Este também possui a forma da uma pessoa como os koshas precedentes. Fé é sua cabeça, Tasye shraddaiva shiraha; retidão é sua asa direita e verdade é sua asa esquerda, hritam dakshinah pakshaha satyamuttarah pakshaha; Yoga é sua alma, Yoga atma; e maha é seu alicerce, maha puchham partishtaha”.
Koshas e LokasInteressantemente, ao definir que maha é o alicerce de vijnanamayakosha, a upanishad nos dá uma dica de como os koshas estão conectados com os lokas, que são planos de consciência que o indivíduo experimenta ao elevar sua consciência de annamaya para pranamaya prosseguindo para manomaya e vijnanamaya. Os sete (sapta) lokas são bhu, bhuvar, swar, maha, jana, tapo e satya. Enquanto bhu, bhuvar e swar - níveis terreno, intermediário e divino respectivamente - estão relacionados com annamaya, pranamaya e manomaya, maha, o nível dos siddhas (seres perfeitos), jana, o nível dos rishis e munis, e tapo, o nível das almas liberadas, se referem ao despertar, estabilização e iluminação de vijnamayakosha.
Satya loka, o plano da bem-aventurança definitiva, corresponde a anandamayakosha, que é a própria consciência pura. A Taittitiya Upanishad define anandamayakosha como tendo a forma de uma pessoa cuja cabeça é o amor, alegria é sua asa direita, o deleite (apreço) é sua asa esquerda, bem-aventurança é seu tronco e Brahman é seu suporte ou alicerce.
Maha loka, o nível dos siddhas ou santos, é o alicerce ou suporte de vijnamayakosha. É a partir daqui que a superestrutura da consciência elevada é construída. Se o alicerce for estremecido, em outras palavras, se os siddhis que começam a se manifestar se tornam objeto de foco ou de satisfação, então o siddha certamente cairá para planos inferiores de consciência. Entretanto, se ele não permitir que os siddhis distraiam a consciência, especialmente quando ele está em estado de samadhi, então a ascensão da consciência para planos mais altos como jana, a realidade dos rishis e munis, e tapo, a realidade das almas liberadas, os jivanmuktas e videhamuktas, é definitivamente assegurada.
De Vijnanamaya para Anandamaya
O descrito acima é um passo tão importante na elevação da consciência que Patanjali em seu Raja Yoga Sutras devotou uma seção inteira a este megaevento, quando a consciência se torna capaz de perceber as quatro dimensões de tempo: passado, presente, futuro e eternidade. Patanjali nomeou este evento, quando os siddhis se manifestam, como vibhooti. Ele o chama de consumação do Yoga e alertou o aspirante para evitar ser distraído por este acontecimento. Esse estado é o equivalente a paroksha anubhuti, ou consciência de um único ponto sem a consciência de si mesmo. Aprofundamento na consciência de paroksha anubhuti conduz o praticante a aparoksha anubhuti, que corresponde à bem-aventurança de anandamayakosha.
Assim você pode dizer que vijnanamaya é a porta de entrada para anandamaya. As experiências de vijnanamaya proporcionam vislumbres do que está armazenado para você assim que sua consciência começa a experimentar a pura alegria. Mas a experiência novamente diminui ou cessa devido a alternância entre distrações e mente focada. Todos os siddhas e santos devem ter passado por este estágio antes de alcançar a iluminação. Os contos sobre Buddha, que antes de alcançar o nirvana encontrou demônios e donzelas encantadas, assim como a história dos 40 dias e noites que Cristo foi tentado antes de experimentar Deus, apontam nessa direção.
Quando acontece o despertar em vijnanamayakosha, siddhis começam a se manifestar. O praticante se torna vidente e telepático, começa a saber muitas coisas sobre as pessoas e sobre eventos mesmo antes que eles aconteçam. Essa coisas aparecem a ele na forma de sonhos, pensamentos ou visões. Ele pode ser capaz de aparecer em vários lugares, a várias pessoas, ao mesmo tempo. Desenvolve o poder de ler os pensamentos dos outros e também, de modificá-los.
Ou pode desenvolver poderes de cura. Suas palavras, toque, um olhar podem curar a doença mais mortal que nenhum médico conseguiu curar. Em alguns casos excepcionais, dependendo da extensão deste advento no nível de vijnanamayakosha, ele pode ser capaz de ressuscitar alguém ou entrar no corpo de outra pessoa. Uma pessoa assim pode ser confundida com Deus, o que talvez tenha acontecido com muitos que não conheciam as manifestação dos siddhis, através do poder do Yoga, quando o despertar de vijnamayakosha acontece.
O Yoga declara, corajosamente, que você não é somente o corpo percebido com os olhos, nem é somente sangue, ossos, medula, músculos, nervos e os diferentes órgãos que o mantém vivo. Você é muito mais do que isso. De fato, o que você conhece de você mesmo com o olho é sustentado pelo que você não pode ver. Se a parte que você não vê deixasse de existir, a parte vista por você definharia e morreria. Esta parte não vista é composta dos cinco koshas mencionados acima. O objetivo de todas as práticas de Yoga, sem exceção, é energizar e despertar estes koshas até que, enfim, você vivencie vijnanamaya kosha. Este é o propósito do Yoga.


Trecho de Satsangs on Yoga, de Swami Satyasangananda Saraswati

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