Páginas

..

"A alma que não se abate, que recebe indiferentemente tanto a tristeza como a alegria, vive na vida imortal."Fonte - Bhagavad-Gita

segunda-feira, 10 de junho de 2013

TRANSCRIÇÕES - Prem Baba


Satsang, 28.03.13 - Índia 2012/2013

Temas: As leis do karma; o caminho da autorresponsabilidade; a dor dos traumas de abuso, abandono e exclusão, e a desidentificação do vitimismo; a necessidade de aprender a lidar com a sexualidade; a amizade espiritual.




Questão: Querido Prem Baba, eu vivi experiência de abuso e abandono durante a minha infância, e sofro até hoje as consequências. Eu sofri essas experiências por merecimento, ou seja, eu já abusei em outras vidas? Ou pedi para vivê-las para poder acordar?
Prem Baba: Eu tenho dito que a alma em evolução, quando atinge um determinado estágio de amadurecimento, pode escolher alguns desafios com o objetivo de ajudá-la a acordar, mas essas escolhas são possíveis de acordo com o arranjo do karma. O karma precisa se cumprir de alguma maneira. E somente a devoção pura pode te libertar de determinados karmas. Mas, a priori o karmaé inegociável.
Até mesmo os grandes avatares sofreram consequências do karma (Karma enquanto uma lei física de ação e reação). Se você reflete sobre a história de Jesus, por exemplo, mergulhando no canal dele, é difícil aceitar que ele foi uma vítima de uma crucificação. Um Ser nesse grau de consciência tem domínio sobre prakriti (matéria), e pode escolher o jogo. Mas, é claro que essa escolha tem um limite, e esse limite está submetido aos desígnios do karma.
Krishna levou uma flechada. Então, aquele que sofre de um abuso, ou de humilhação e exclusão nessa Terra, com certeza já abusou, já excluiu e abandonou em algum momento. Essa é uma lei inevitável.
Mas, pouco importa se você já abusou ou se está vivendo esse abuso para acordar, porque entender isso intelectualmente não vai ajudá-lo. Se você tem a chance de entrar no núcleo da dor e acessar a constelação de memórias que está relacionada a esse karma, aí faz sentido. Mas, simplesmente entender não te ajuda; o que te ajuda é você entrar na experiência. Se você consegue ter acesso ao abusador, o abandonador ou o intimidador dentro de você, então tudo isso começa a fazer sentido.
Eu tenho te ensinado um caminho bastante difícil, que é o caminho da autorresponsabilidade. Esse caminho não é fácil, porque não há espaço para a vítima, embora muitas vezes você tenha de fato sofrido um abuso. Nesse momento, nós trabalhamos para acolher a sua dor e o fato de que você foi uma vítima do karma, ou qualquer outro nome que você queira dar para isso. Ninguém quer estar nesse tipo de situação; ninguém quer espetar o dedo no espinho.
Quando a pessoa é submetida ao abuso, ao abandono ou à exclusão, uma fenda se abre na alma, e a entidade humana perde o chão e, por um período de tempo, ela fica desorientada. Então, ela experimenta uma fragilidade, que não tem como se descrever em palavras. Isso a conecta com medo, pânico e desespero, que também não é possível descrever em palavras. Só quem está passando pela experiência sabe o que é. Essa passagem requer um respeito e um cuidado. É claro que cada um vai ter o seu tempo de integração dessa experiência. Nós estamos vendo que, às vezes, uma vida é pouco para integrar uma experiência dessas. Então, quando o núcleo de dor é tocado, há que se ter um acolhimento. Ao mesmo tempo é preciso ter atenção, porque o ego pode estar pregando uma “pegadinha”, pois há uma chance da sua identidade ficar congelada na vítima, e você pode ficar assim por muito tempo.
O caminho que eu estou propondo é você justamente se desidentificar dessa vítima, então, em algum momento, você terá que compreender que você não é uma vítima desse abuso, porque esse ‘eu’ que foi abusado não é você, não é a sua realidade maior. É claro que isso reflete nos níveis mais profundos da sua alma, mas no nível do espírito, você não foi tocado. É somente no nível do espírito que você reconhece a sua verdadeira identidade. Essa mudança de identidade só é possível quando você se desidentifica daquele que sofreu o abuso. Essa mudança é o que eu chamo de integração do trauma.
É preciso compreender a sua história mais profundamente. Por que você precisou de desafios tão difíceis? Isso é olhar no nível do espírito, mas não quer dizer que não tenhamos que promover também afinações na nossa sociedade; isso não quer dizer que não tenhamos que lidar com a nossa energia sexual. Porque, apesar da nossa estupidez ao lidar com essa energia também seja um fruto do karma, nós precisamos trabalhar nisso de dentro para fora (no nível do espírito), mas também de fora para dentro, no nível mais social ou intelectual.
Por exemplo, é crucial que possamos interferir de uma forma consciente e saudável nesse horror que está acontecendo aqui na Índia. Todos os dias os jornais mostram mulheres sendo abusadas em todos os cantos, por vários homens juntos. Depois desse alvoroço por causa de um abuso em Delhi, aconteceu novamente um abuso em Calcutá, onde dez homens abusaram de uma mulher. É claro que essa estupidez não está acontecendo somente aqui na Índia, mas quanto maior a repressão sexual, maior será também a perversidade sexual. Toda a promiscuidade, toda a crueldade, toda a pornografia e perversidade, nascem da repressão sexual. Nós temos que lidar com isso de uma forma consciente; temos que encontrar uma maneira de iluminar a luxúria, e abrir caminhos para a energia sexual encontrar o coração. Isso não é simples.
Você está vendo como é desafiador no seu nível pessoal (você que teve o bom karma de ter um bom esclarecimento e liberdade em todos os sentidos; e ainda assim você é escravizado por essa repressão), imagine aquele que não teve isso e morre de medo dessa expressão da consciência, que é a sexualidade.
Esse é o principal problema dessa era. Quando eu falo da necessidade de ressignificar o casamento, a família, para poder ressignificar a sociedade - no núcleo disso tudo está a sexualidade. Se a sexualidade não está iluminada, não há espaço para o amor. Se não há espaço para o amor, é claro que os filhos vão nascer cheios de medo e ódio.
Eu tenho dito que a cura espiritual é uma ressignificação do seu nascimento, porque você se sente completo quando sente que é um filho abençoado do mistério do amor. Porque, enquanto houver marcas dessa luxúria no seu sistema, você sempre vai se sentir abandonado, rejeitado, excluído e abusado. Em alguns casos, isso é reeditado logo na infância, o que é realmente lamentável.
E um dos principais alimentos que sustenta essa repressão, é a religião horizontal. É a moral religiosa, que não tem nada a ver com a moral do coração. Isso é preciso ser dito. Quando estamos falando de parivartan, estamos falando dessa mudança de eixo.
Mas, independentemente do karma que você carrega; independentemente do que você fez em vidas passadas, o que te ajuda é compreender que tudo isso está a serviço do “grande professor”, para você aprender a perdoar e amar. Porque, enquanto você estiver preso na vítima, você terá muitas razões para se vingar; então você entra em um círculo vicioso de destruição infinito. Eu estou te convidando a interromper esse círculo vicioso, e você o interrompe, quando sai da posição da vítima e compreende que ela está dos dois lados. O abusador é tão vítima quanto aquele que foi abusado. Aquele que rouba é tão vítima quanto aquele que foi roubado. Aquele que exclui é tão vítima quanto aquele que foi excluído.
Dentro da sua jornada de cura, em algum momento, você vai fazer empatia com esses abusadores, esses intimidadores... Esses maldosos. Quando você se coloca no lugar dessa pessoa, e vê a dimensão da dor que ela carrega, não há espaço para vingança. Então você corta o círculo, mas isso não pode ser intelectual. Você até tenta fazer empatia intelectualmente, mas assim você não se liberta. Às vezes, para realmente integrar, é preciso entrar em contato com a sua raiva; é preciso entrar em contato com o plano de vingança desse ‘eu’ que se sente tão machucado e rejeitado.
Independentemente do estágio no qual você se encontra nesse processo, você precisará ter disposição para olhar isso de frente. Esse é o principal caminho para tratar do trauma. Você tem que ter disposição para olhar para a coisa, até que possa se dessensibilizar e desprogramar as marcas que ficaram no seu sistema, para poder se libertar dos sentimentos que ficaram presos dentro. E quando isso se completa, obviamente, você se desidentifica desse que foi abusado. Assim, você vai poder se libertar, e essas perguntas vão cessar.
Qual é o corpo que não foi abusado, rejeitado, excluído nessa Terra? Até mesmo nas eras mais evoluídas da história isso acontecia; quanto mais na Kali Yuga - a era da escuridão, quando há tanta estupidez, ignorância e maldade no ar; tanta falta de amor e esquecimento de Deus. Porque tudo isso é apenas o esquecimento de Deus; o esquecimento da sua verdadeira natureza. A identificação com o corpo é o que faz com que você reaja e tente se vingar. Então, às vezes você é o abusador, às vezes o abusado. Enquanto você estiver identificado com o corpo, essa guerra nunca vai acabar.
Esse planeta é muito bonito, mas tem seus desafios. É uma grande arte viver nesse plano sem cair nos vales do sofrimento. Eu sinto que parte fundamental dessa arte de viver, é você aceitar as condições do jogo, porque enquanto você fica revoltado, você fica apenas recriando os dramas, porque você fica somente reagindo.
A rosa tem espinhos... Por mais bonita e cheirosa que ela seja com suas pétalas macias - de vez em quando você espeta o dedo no espinho, e fica com ele espetado na carne por muito tempo. Então você quer vingança, porque se sente injustiçado. Você não confia na Justiça Divina, porque está identificado com o corpo. Então, você quer fazer justiça com as próprias mãos. Você não consegue enxergar que tem um poder maior guiando tudo isso.
Eu estou trabalhando firmemente para mudar isso; para que você possa se desidentificar do corpo, e possa olhar tudo isso de cima. Olhando de cima, você vê que não há vítimas. Vítima no sentido pessoal, no nível do ego. Porque, no sentido maior, todos nós somos vítimas. Por isso não faz sentido você continuar querendo se vingar.
Você quer a todo custo provar que a sua dor é maior do que a do outro. Mas, como podemos medir isso? Eu tenho dito que, quanto maior a maldade e a crueldade, maior é o grito de socorro que está contido dentro da pessoa.
Muitas mudanças estão acontecendo. Por exemplo, a renúncia do Papa é muito significativa. Abrir mão de um poder como esse, por conta de uma crise de consciência... Uau! Quantas vezes isso aconteceu ao longo da história? Eu acredito que nunca.
Durante o Kumbh Mela, o principal líder do islamismo, que tem mais de dez milhões de pessoas em suas mãos, foi nos visitar. Ele tem uma abertura impressionante também. Então, ele ficou muito tocado pela minha presença e me convidou para tomar um chá na casa dele. Isso não é incrível?
Nós estamos trabalhando para mudar o paradigma social através da educação. Até onde eu consigo enxergar, a única maneira de mudar isso, é através da educação das crianças. Este ano, nós estamos conseguindo inaugurar esse projeto em uma cidade em São Paulo. Eu estou trabalhando firmemente para que isso possa se tornar uma política pública; para que a criança, quando chegar à escola, já receba o conhecimento sobre ahimsa e a cultura de paz. Mas, na base, o meu alvo é trabalhar na sexualidade e na economia. Enquanto não mudarmos o paradigma que envolve sexo, poder e dinheiro, não há como haver essa mudança na Terra. Eu vejo essa mudança surtindo efeito, daqui a vinte anos mais ou menos. Mas, a partir de 2016, haverá diversos focos de luz, em muitos lugares.
Isso é uma visão do trabalho, no nível coletivo e social. Vamos voltar para a esfera pessoal: Como você pode ressignificar a sua história? Como você pode ir além da luxúria, e abrir espaço para o amor na sua vida?
Se você diz que até hoje você sofre as consequências desse abuso, é porque você não integrou esse abuso; porque não pôde compreender e perdoar. Até hoje você se sente uma vítima injustiçada e quer vingança. Talvez você não consiga perceber como essa vingança se manifesta, mas ela acontece em algum grau. Se há uma identificação dessa natureza, significa que, em algum grau, há ódio e medo atuando dentro de você. Há culpa de ter ódio. E se tem culpa, haverá destruição; haverá sabotagem da sua felicidade. Quem tem culpa não pode ser feliz, isso é impossível. A culpa rouba a cena. Não há espaço para felicidade se há culpa, pois você continua se punido.
Você quer entrar mais fundo para ver isso? Eu estou disposto a te dar isso. Vamos aproveitar esse finalzinho de trabalho, para aprofundar um pouco mais. Para isso, você precisa se recolher. É difícil fazer trabalhos de cura aqui, porque há muita movimentação e falação; é tudo muito para fora.
Por isso surgem essas questões:
Questão: Querido Guru Ji, nesses últimos anos com você, tem surgido uma questão recorrente, que é um desejo de ficar em silêncio durante a temporada na Índia. Quero ficar recolhido, para poder focar no trabalho que está acontecendo. Mas isso faz com que fique difícil manter amizades próximas, e isso me faz sentir isolado e sozinho com frequência. Você poderia falar sobre como é a amizade espiritual?
Prem Baba: A amizade espiritual é aquela que respeita o seu silêncio. Aquela que compreende o seu trabalho e o respeita. Essa é a verdadeira amizade. As outras amizades não devem fazer diferença para você, muito pelo contrário, é preciso evitar essas amizades que te desviam do seu coração. Alguns se incomodam quando eu digo isso, mas eu tenho que lhe dizer a verdade. Amigo é aquele que apoia você a trilhar o caminho espiritual; é aquele que dá força para você se realizar. Você precisa ficar atento com isso. Alguns usam um pregador dizendo que estão sem silêncio.
Você vai ter que correr o risco de desagradar. Talvez você tenha que passar por algum período de isolamento, até que esses amigos espirituais apareçam. Talvez você tenha que mudar um pouco a frequência das suas companhias. Essa mudança pode trazer desafios, mas isso é somente um momento, e você não deve se preocupar com isso; você deve focar no comando do seu coração. Se o seu coração está dizendo para ficar em silêncio, você deve respeitar, porque certamente isso é um convite para você focar no seu mundo interno; é um convite para aprofundar no seu processo de cura. Essa é a única maneira de aprofundar.
Aqueles que tiveram a chance de participar de algum retiro de silêncio comigo, sabem como é possível acontecer milagres. Porque, através disso, você abre espaço para o Divino se manifestar. Nós não estamos brincando de espiritualidade, nós estamos verdadeiramente batendo na porta. Há seriedade na nossa proposta. Se você bate na porta com essa verdade, a porta se abre. Mas, para você poder usufruir das bênçãos dessa abertura, você vai ter que se recolher, do contrário você vai somente passar mal. Porque, quando todas essas frequências intensas de luz tocam você, mas você está distraído por aí, você passa mal. Você nem sabe por que sente tanto desconforto no corpo. Haja ameba para receber tanta culpa... Haja ameba para acusarmos por tanto desconforto que sentimos... Não quer dizer que não haja amebas, mas... (risos) É difícil de compreender?
Aos poucos vamos abrindo essa nova sessão de cura, que vai até o dia 13 de abril. Esse é um período de cura e elevação. Logo eu vou propor um programa para ajudá-lo a aprofundar. Vamos abrindo aos poucos. Aí, segura! Segura no chifre do boi... (risos) Porque é muito difícil lidar com alguns sentimentos. Se você abre o núcleo de um trauma de abuso, são sentimentos mortificantes, aterrorizantes... E você tem que atravessar. Muitas vezes, você está nesse lugar, acreditando que está sozinho, mas lembre-se que eu estou sempre com você. Eu nunca te abandono. Você pode não me sentir, mas eu estou com você.  Com a graça de Deus, em algum momento, você vai sentir isso, e nunca vai esquecer. Nesse momento, o medo da sua alma vai acabar.
Abençoado seja cada um de vocês. Que haja disposição para receber as santas curas. Até o nosso próximo encontro.
NAMASTE

Nenhum comentário:

Postar um comentário