Antes de praticar hatha yoga trabalhei como massagista, numa linha ligada à medicina tradicional chinesa.
Ao iniciar o curso de formação de professores, comecei a perceber que as posturas trabalhavam regiões por onde passam os meridianos de energia, ponto de partida da acupuntura, moxabustão, shiatsu, etc...
Ao iniciar o curso de formação de professores, comecei a perceber que as posturas trabalhavam regiões por onde passam os meridianos de energia, ponto de partida da acupuntura, moxabustão, shiatsu, etc...
Lendo o livro do professor Hiroshi Motoyama (Teoria dos Chakras), constatei com alegria que ele fazia a correlação entre os nadis, da yoga, e os meridianos da medicina chinesa. Isto me deu ânimo para continuar pesquisando, através de leituras e principalmente da observação do meu próprio corpo e mente.
Tenho norteado minha prática, desde então, pela observação da energia que flui por estes canais, e hoje em dia sinto-me à vontade para conduzir minhas aulas nesse sentido, e para abrir este tema a reflexões mais amplas.
Devo ressaltar, a bem da verdade, que os pensamentos aqui expostos nada têm de originais; são apenas uma síntese do que recolhi – um pouco aqui, um pouco ali.
Os sábios chineses, observando a natureza, perceberam que tudo está em constante transformação. Dois princípios, ao mesmo tempo opostos e complementares, estão presentes em todos os fenômenos. Chamaram estes princípios de yin e yang.
Yin é o princípio feminino, cujos atributos são: a noite, o repouso, o que acolhe (receptivo), o sombrio, o vazio, a água, o interior.
Yang é o princípio masculino, cujos atributos são: o dia, o movimento, o que penetra (objetivo), o luminoso, o cheio, o fogo, o exterior,
Estes princípios não são estáticos, mas estão em constante movimento, transformando-se um no outro. Quando o yang chega ao seu ponto mais alto, transforma-se em yin (como as lágrimas que surgem no auge de um ataque de raiva).
Yang é o princípio masculino, cujos atributos são: o dia, o movimento, o que penetra (objetivo), o luminoso, o cheio, o fogo, o exterior,
Estes princípios não são estáticos, mas estão em constante movimento, transformando-se um no outro. Quando o yang chega ao seu ponto mais alto, transforma-se em yin (como as lágrimas que surgem no auge de um ataque de raiva).
Estas transformações não ocorrem caoticamente, mas observam leis naturais, que também regem a vida humana, como parte que somos da natureza.
Assim, todos nós temos nossa primavera, na infância, onde tudo é novo e fresco como um broto; temos o esplendor do verão, na juventude, o amadurecimento do outono na maturidade, e a época de recolhimento e preparação para a morte, no inverno da nossa velhice. A sabedoria consiste em conhecer e respeitar cada fase, extraindo da vida a beleza peculiar a cada estágio.
As peculiaridades de cada estação permitiram aos chineses da Antigüidade correlacioná-las com elementos da natureza. Diga-se de passagem que eles davam a estes elementos o nome de “estados de mutação”, o que é coerente com a visão dinâmica do mundo que eles possuíam.
Estas energias fluem no organismo humano através dos meridianos, e é este ponto que nos interessa. Ao permanecermos em uma postura (asana), com a mente serena e concentrada, podemos sentir a energia vital fluindo através destes meridianos.
Quando sentimos dificuldade em permanecer numa determinada postura, isto pode indicar que o meridiano trabalhado na postura está bloqueado. A energia não consegue fluir livremente – temos uma condição de excesso de energia.Quando a postura é executada facilmente, mas a mente não consegue ficar estável (como se não quisesse entrar em contato com “alguma coisa”), - ficamos impacientes para sair daquela posição – isto pode indicar que há falta de energia no meridiano em questão.
Quando a energia vital flui livremente por um meridiano podemos sentir seu fluxo e há prazer em permanecer na postura, por períodos cada vez mais longos – a postura se torna “estável e confortável” – este é o ideal preconizado por Patanjali no Yoga Sutras.
Cada meridiano está relacionado a um tipo de emoção; conhecendo seu estado energético nos tornamos mais conscientes de nossos estados emocionais e podemos trabalhar para equilibrá-los.
Por tudo isto, acredito na importância de trabalhar com consciência nossos meridianos, permanecendo nos asanas. Escolhi refletir sobre cada estação do ano e os meridianos ligados a ela. PrimaveraEm nosso organismo (e em nossas vidas) é o tempo de transformar, depurar o “velho” para que brote o “novo”. Nossa energia se volta para o movimento, a ação, a realização daqueles projetos que idealizamos no recolhimento do inverno. O elemento que predomina nesta estação é a Madeira (as árvores e plantas que se renovam) e os meridianos ligados a esta energia são os relacionados aos órgãos do fígado e da vesícula biliar.A energia vital fluindo livremente por estes meridianos gera a capacidade de fazer opções, decidir entre diferentes caminhos/projetos. É a época em que temos o impulso de realizar coisas no mundo, de exercer nossa capacidade criativa para transformarmos a nós mesmos e a nossa realidade. Por estarem ligados ao crescimento, ao movimento, fígado e vesícula biliar (F/VB) regem nossos músculos e tendões. A emoção ligada a eles é a raiva, que nada mais é do que um impulso para o movimento, para realizar uma expectativa, que nós bloqueamos. Geralmente a raiva parece ter uma causa externa – uma pessoa, ou uma situação “criaram” a raiva dentro de nós -, mas se analisarmos esta emoção do ponto de vista de nossa vontade de alterarmos a vida de outros para nos sentirmos bem, veremos que ela brota de uma expectativa interior que não foi concretizada. Podemos sentir a energia fluindo pelos meridianos de F/VB quando permanecemos em posturas laterais, por exemplo, Uttitha Trikonasana, Parighasana, Uttitha Parsvakonasana.A energia de cada meridiano pode também ser equilibrada por cuidados relativamente simples com nossa alimentação, bem como cuidando de nossa vida anímica. Ajudam a equilibrar a energia os brotos, as folhas tenras, miúdas (salsinha, manjericão, orégano), as folhas verde-escuras, como rúcula, agrião, couves. O sabor ligado a estes meridianos é o ácido, que nesta estação deve ser usado com cuidado, para não provocar excesso de energia. Utilizadas com equilíbrio as frutas ácidas (laranja, mexerica, abacaxi...) ajudam a harmonizar a energia do fígado. Toda atividade que nos permite desenvolver nossa criatividade, bem como o contato com pessoas criativas e calmas, também favorece esta energia.Como o elemento Madeira tem uma natureza ascendente, a prática da meditação ou a busca de um caminho espiritual (não necessariamente uma religião formal) cooperam com a sua harmonização. Para finalizar, descrevo alguns indicadores de desequilíbrio nos meridianos de fígado e vesícula biliar: falta de vontade, irritabilidade, tendência a gritar e/ou a chorar por qualquer coisa. VerãoNa primavera vários brotos surgiram, semelhantes entre si, frágeis, exigindo força para sobreviverem e crescerem. Agora, no verão, as coisas ficam claras, diferenciadas. Já sabemos quais brotos conseguiram crescer, quais morreram; em nossas vidas temos consciência de quais são os projetos em que realmente querermos continuar investindo. Temos clareza do que “vale a pena”. Esta escolha é feita pelo nosso coração; por mais que a razão nos diga que o caminho x é mais seguro, ou melhor, se nosso coração não está aí, dificilmente teremos êxito. Porém, esta escolha do coração não é cega, passional, mas está ancorada nas necessidades da nossa alma, do nosso centro, e é baseada na intuição – a capacidade de ver mais longe e com mais clareza, além das limitações do ego e da mente racional. Os meridianos ligados à energia do fogo são coração e intestino delgado. Através da circulação do sangue eles também fazem circular o calor e o entusiasmo por todo o nosso organismo. Sem este entusiasmo não nos seria possível continuar com os projetos que iniciamos na primavera. A generosidade e a compaixão também se relacionam com estes meridianos; costumamos dizer que uma pessoa tem “um bom coração”, ou “um coração de pedra”.Podemos sentir a energia vital fluindo por estes meridianos quando permanecemos em posturas como: Gomukhasana (a postura da cara da vaca), Baddha Konasana. Frutas e frutos frescos e suculentos, saladas coloridas, de preferência preparadas cruas e temperadas com pouco (ou nenhum) sal, vegetais ligeiramente refogados, ou cozidos no vapor, fazem muito bem a esses meridianos. Como a energia do fogo está ativada, devemos evitar cozinhar demais os alimentos, pois isto ativa ainda mais esta energia, podendo gerar excesso. Alimentos amargos, como:jiló, couve, chicória, serralha, catalônia, raditi, escarola, folhas de cenoura, etc... estimulam a energia de C/ID. Como foi dito antes, devemos evitar o seu excesso. Tomar banhos de sol (antes da 11 h e após as 15 h). Contemplar o nascer e o pôr do sol, permitindo maravilhar-se com estes espetáculos, cuidar do aconchego do nosso lar (ter flores em casa ajuda a equilibrar a energia do coração). As emoções ligadas a esses meridianos são a sinceridade amorosa e serena, a compaixãoe a generosidade. Em desequilíbrio esta energia gera histeria ou uma tristeza permanente (luto). Alto VerãoEm nós a terra é o centro do corpo: timo, estômago, pâncreas e baço, umbigo. É o centro da atividade mental: idéias e opiniões, capacidade de reflexão. É o centro do espaço que nos envolve: carne que reveste os nossos ossos e músculos, que nós dá uma aparência e identidade corporal. O elemento desta estação é a Terra; em equilíbrio faz com que fiquemos em paz com quem somos, e nos sentimos em casa onde quer que estejamos, pois sempre estamos em nossa própria casa/corpo/mente.A boca, os lábios, tudo ligado ao comer, mas também ao sorrir, cantar, se comunicar, está ligado à terra. Os meridianos relacionados a esse elemento sãoestômago e baço-pâncreas. A assimilação daquilo que ingerimos, bem como das experiências que passamos, está ligada a estes meridianos. A capacidade de aceitar as pessoas, “assimilá-las” (compreendê-las), também tem a ver com a energia de E/BP. Alguns dos alimentos que favorecem estes meridianos: carboidratos complexos, fornecidos por cereais, feijões, tubérculos, raízes, bulbos, cebola, abóbora, nabo, beterraba, maxixe, inhame. Também é bom utilizar temperos: louro, coentro, açafrão, hortelã, cominho, alecrim, sálvia, cravo, canela, etc... As frutas amarelas ou amareladas também são bem-vindas: laranja, lima, maracujá, mamão,... in natura ou em forma de sucos. Alimentos anímicos Cuidado com a boca: comer demais e abusar de açúcar são os pontos fracos nesta estação do ano. Como o alto verão marca a passagem para as estações de energia mais yin, é saudável começar a preparação para esta fase, fazendo períodos diários de meditação, ou tirando alguns momentos do dia para atividades voltadas para a interiorização. Alguns sinais de desequilíbrio em E/BP são: depressão, tendência exagerada ao isolamento, ansiedade, falta de paciência e de perseverança, pressa constante, comportamento obsessivo, neuroses. Podemos sentir a energia fluindo por esses meridianos quando permanecemos em posturas como o Virasana e principalmente o Supta Virasana. OutonoEnfim, há muito para auto-observar, não para se punir ou sentir diminuído, mas para desenterrar os tesouros ocultos dentro de nós e lapidá-los. O outono está relacionado com o elemento Metal, que se encontra no interior da terra e exige esforços para ser extraído. Os meridianos ligados a este elemento são pulmão e intestino grosso.Podemos sentir a energia fluindo por eles quando permanecemos no Tadasana (postura da montanha), Virabhadrasana.
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Namastê
Lu Perez
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