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"A alma que não se abate, que recebe indiferentemente tanto a tristeza como a alegria, vive na vida imortal."Fonte - Bhagavad-Gita

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Morte e Renascimento





Cada civilização teve a sua abordagem da morte e uma sabedoria própria. A morte foi considerada em algumas como o limiar de uma grande passagem, uma iniciação, uma porta dando acesso aos mistérios do mundo, raramente acessíveis aos vivos.

Na nossa sociedade atual muitos vê a morte como algo ruim e algo no qual não devemos nem pronunciar.

Porém, em algumas filosofias como o Budismo Tibetano a morte é vista como uma passagem, uma etapa num processo bastante mais vasto que engloba nele o nascimento.

Com a sua experiência milenar, o Budismo pode trazer algumas respostas quanto ao que nos espera do outro lado da morte e oferecer alguns conselhos sobre como nos prepararmos e ajudar os outros a preparem-se para esse momento derradeiro.


Os Budistas desenvolvem pois um sentido das responsabilidades dos seus actos uma vez que a morte, o estado intermediário e o próximo renascimento dependem deles.

Contrariamente a certas teorias postulando que o renascimento é sempre num sentido evolutivo, o Budismo vê a vida como um fluxo contínuo, por vezes ascendente, por vezes descendente, em função da natureza positiva ou negativa do nosso karma, ou seja, da resultante positiva ou negativa das nossas ações. Isto quer dizer que somos responsáveis pelas nossas reações, do caminho positivo ou negativo que tomamos e que é muito importante conhecermos as implicações das escolhas que constantemente temos de fazer na vida.

No fluxo contínuo da vida, da morte e do renascimento, o Budismo reconhece várias fases ou bardos. Esta palavra tibetana quer dizer “transição” ou “intermédio”. Tecnicamente falando, os textos budistas reconhecem quatro ou seis tipos de bardo, segundo as escolas. Isto quer dizer que no processo contínuo da vida, da morte e do renascimento, o nosso espírito passa por vários estados. Cada um deles é passageiro e é nesse sentido que se fala de estados intermediários.






A apresentação mais simples fala de quatro bardos. Trata-se do bardo da vida que dura do nascimento até à morte; do bardo do momento da morte que é o processo de agonia e de cessação das funções vitais; do bardo da vacuidade que corresponde ao momento em que a consciência faz a experiência da luminosidade natural do espírito, ou clara luz, e por fim do bardo da existência que corresponde ao período entre a experiência da clara luz e o renascimento seguinte.

Segundo o budismo, quais são então as nossas experiências nos derradeiros instantes da vida que agora vivemos? O Budismo explica que no momento da concepção a nossa consciência entra na matriz da mãe e toma como suporte a união das células masculina e feminina. Nos textos fala-se da essência branca do pai e da essência vermelha
da mãe como os aspectos subtis dessas duas células que presidiram à nossa concepção e dizem que essas essências perduram durante toda a nossa vida.

Por outro lado, tal como o mundo físico exterior, também o nosso corpo é formado pela interação dos cinco elementos : terra, água, fogo, ar e espaço. No momento da morte estes cinco elementos dissolvem-se uns nos outros e cada etapa desse processo é acompanhada por certas sensações particulares.

Por último, a consciência dissolve-se na vacuidade e é aquilo que consideramos como sendo a morte, o momento em que o espírito e o corpo se separam. Nesse momento as essências branca e vermelha de que falámos dissolvem-se no coração.

No final de todas as dissoluções o moribundo tem a experiência directa da luz clara, uma luminosidade que foi descrita como uma “aurora imaculada num céu de Outono perfeitamente limpo”. Essa é a consciência fundamental, a base de todos os outros níveis de consciência e a única que está sempre presente em todas as fases do contínuo da existência.

Mas a maior parte dos seres não reconhecem esta luminosidade, têm medo e perdem consciência, como se desmaiassem. Este estado de obscuridade dura cerca de três dias após os quais, pela força dos hábitos mentais, o defunto como que “renasce” num corpo mental. Este processo de restruturação da consciência marca o início do bardo da existência.


Durante a primeira parte do período que decorre entre a morte e a próxima vida – cerca de quarenta e nove dias, em média – a forma desse corpo mental, bem como todas as alucinações experimentadas pelo defunto estão relacionadas com a vida que acabou de deixar.

 Na segunda parte, as suas experiências estarão sobretudo relacionadas com a futura existência. Durante este segundo período ele irá ter certos presságios indicando a natureza do seu próximo renascimento, o qual dependerá dos actos anteriores.


Do ponto de vista dos médicos e enfermeiros, bem como dos familiares e amigos, que podemos nós fazer para ajudar o doente a fazer face a atravessar todas as fases da aproximação da morte e os derradeiros instantes de vida?

Quer a pessoa seja crente ou não, o mais importante é ajudá-la a resolver os conflitos interiores e exteriores, reconciliar-se com as pessoas a quem fez mal e perdoar aos que lhe fizeram mal. É bom que ela se desapegue dos bens, do estatuto social, da fama, da família, em resumo de tudo aquilo de que gosta e que terá de deixar. Perante a iminência da morte, todas as acções negativas cometidas com fins mesquinhos deixam-nos roídos pelo remorso. Quem tenha vivido mal pode morrer torturado pelo remorso e rodeado pelos ódios que acendeu. Será particularmente difícil ajudar uma pessoa dessas.


Todas essas coisas que destróem a nossa paz de espírito podem continuar a torturar-nos durante o estado intermediário, por isso, embora seja importante ajudar alguém a morrer, é preciso saber que o melhor preparativo para a morte é viver de um modo honesto e pacífico.

No que respeita á morte, como aliás a todas as fases da vida, o Budismo afirma justamente que os nossos atos determinam a natureza das nossas experiências e portanto, mesmo uma pessoa sem religião, que não seguiu nenhum treino espiritual particular, mas que viveu sem ódio nem rancor, sem fazer mal aos seres vivos e com um sentido dos valores humanos de solidariedade e de calor, que não tenha tido inimizades intensas nem preferências muito marcadas por certas pessoas, morrerá geralmente em paz, terá um bardo tranquilo e renascerá numa forma de existência superior.



O treino Budista de base leva-nos a respeitar esta lei da causalidade das nossas ações, incita-nos á prática da não-violência e ao desenvolvimento da compaixão, permitindo-nos ter uma morte serena, em paz com nós mesmos.

No que respeita aos grandes Mestres, seres cuja mestria do espírito é grande, eles podem pura e simplesmente nunca perder consciência e guardar intactas todas as aquisições e as experiências da vida que deixaram. Inúmeras histórias atestam esta capacidade, como por exemplo, aquela que aparece no filme Kundun, baseado na auto-biografia do Dalai Lama: quando era muito pequeno o actual Dalai Lama lembrava-se perfeitamente do sítio onde a sua anterior encarnação tinha guardado a dentadura postiça, um detalhe que todos desconheciam

Esta vitória sobre a vida, a morte e o renascimento é precisamente um dos objectivos da prática Budista e uma conquista que, segundo o ensinamento do Buda, é perfeitamente acessível a todos aqueles que se dedicam a uma prática de transformação do espírito, como a que o Budismo propõe.


O Filosofo e médico norte-americano Raymond Moodyq também nos fala sobre a passagem da morte, através do estudo e das experiências de quase morte. Querendo desvendar o véu que separa a vida da morte através dos relatos com as pessoas que quase morreram aqueles que morreram e retornaram para falar a respeito do que aconteceu. 


No seu livro “Vida Após a Vida” ele relata várias experiências EQM (experiência de quase morte). Todas elas acontecidas num momento de uma parada cardíaca com um retorno feliz à vida, obedeciam ao um mesmo padrão: a pessoa se via fora do corpo com os médicos tentando revivê-la e o paciente era sugado para dentro de um túnel escuro (O Vale das Sombras) amplo, profundo, aterrador que se estende até o infinito. Imediatamente essa paisagem muda e ele vê uma luz no fim do túnel. É recebido por um Ser de Luz e sua vida passa inteira, tal qual um filme e ele ouve uma voz e vê um portão fechado. O Ser de Luz avisa-o que se passar o portão não haverá volta. Naquele momento ele ouve as vozes dos médicos ou das pessoas queridas que tentam reanimá-lo que dizem: "volta, volta, volta" e ele retorna à vida.

Podemos também ler os ensinamentos de Ramana Maharish que respondendo aos seus discipulo sobre este tema morte e renascimento. Ensinava para aqueles que eram capazes de compreender a teoria não-dualista em sua forma pura ele apenas explicava que esta pergunta não surge, pois como o ego não tem uma existência real agora, também não o terá após a morte. (D =discipulo, B = Bhagavan (Pai, Mestres).

       D.: As ações de uma pessoa nesta vida afetam os seus nascimentos futuros?
      B.: Você nasceu? Por que você se preocupa com nascimentos futuros? A verdade é que não existe nascimento e nem morte. Que aquele que nasceu pense sobre a morte e outros consolos para ela.

O Bhagavan, de fato, desencorajava a preocupação com esses temas metafísicos, já que eles apenas distraem a pessoa do esforço de realizar o Eu Real aqui e agora.
      
D.: Dizem que depois da morte temos a escolha de desfrutar dos nossos méritos ou dos nossos deméritos, que depende apenas de nossa escolha. Isto é assim mesmo?
       B.: Para que perguntar sobre o que acontece após a morte? Para que perguntar se você nasceu ou não, se você colhe os frutos de seu karma passado ou não? Você não terá essas perguntas daqui a pouco quando estiver dormindo. Por quê? Por acaso você agora é uma pessoa diferente do que era enquanto dormia? Não, você não é. Descubra porque essas perguntas não surgem quando você está dormindo.

Ocasionalmente, entretanto, o Bhagavan aceitava um ponto de vista menos elevado para aqueles que não podiam ater-se à teoria não-dualista pura.
       B: No Bhagavad Gita Sri Krishna primeiro diz a Arjuna, no Capítulo II, que ninguém nunca nasceu e depois, no Capítulo IV, que “você e eu já passamos por inúmeras encarnações. Eu as conheço mas você não.” Qual dessas declarações é verdadeira? O ensinamento varia de acordo com a compreensão do ouvinte.
       Quando Arjuna disse que não iria lutar contra e matar seus parentes e professores para conquistar o reinado, Sri Krishna disse: “Não é que estes, você ou eu, não éramos antes, não somos agora, nem seremos depois. Ninguém nasceu, ninguém morre e não será assim daqui para a frente.” Ele posteriormente desenvolveu este tema, dizendo que ele havia dado instruções ao Sol e, através dele, a Ikshvaku; e Arjuna indagou como isso seria possível já que Krishna havia nascido apenas há alguns anos atrás e eles tinham vivido em eras passadas. Então Krishna entendeu seu ponto de vista e disse: “Sim, você e eu já passamos por inúmeras encarnações. Eu as conheço mas você não.”
Essas declarações parecem contraditórias, mas cada uma é verdadeira de acordo com o ponto de vista do ouvinte. Cristo também disse “Antes de Abraão ser, eu sou.”


Assim como nos sonhos você acorda depois de várias experiências novas, também depois da morte um novo corpo é encontrado.
       Assim como os rios perdem a sua individualidade quando deságuam no oceano – e mesmo assim as águas evaporam e descem como chuva de volta para o rio e depois para o oceano -, os indivíduos também perdem a sua individualidade quando vão dormir mas retornam novamente de acordo com as suas tendências inatas prévias. Similarmente, na morte o ser também não é perdido.

.: Como isso?
      B.: Veja como uma árvore cresce novamente depois de seus galhos serem cortados. Enquanto a fonte da vida não é destruída, ela continua crescendo. Da mesma forma, no momento da morte as tendências latentes retornam ao coração, mas não são destruídas. É assim que os seres renascem.
       No entanto, de um ponto de vista mais elevado ele responderia:
       Em verdade não existe nem semente nem árvore – existe apenas Ser.
      Ocasionalmente ele explicava o processo mais detalhadamente, mas sempre com a ressalva de que na verdade só existe o Eu imutável.
       D.: Quanto tempo dura o intervalo entre a morte e o renascimento?
       B.: Pode ser longo ou curto, mas o Homem Realizado não passa por isso; ele é absorvido diretamente pelo Ser Infinito, segundo a descrição do Brihad Aranyaka Upanishad. Alguns dizem que, após a morte, aqueles que tomam o caminho da luz não mais renascem, enquanto que aqueles que tomam o caminho da escuridão renascem depois de ter colhido os frutos do seu karma (destino auto-produzido) em seus corpos sutis.


Se os méritos e deméritos de um homem são iguais ele renasce imediatamente na Terra; se os seus méritos superam seus deméritos ele primeiro vai ao céu em seu corpo sutil, já se seus deméritos superam seus méritos ele vai primeiro ao inferno. Mas em ambos os casos ele renasce posteriormente na Terra. Tudo isso é descrito nas escrituras, mas na verdade não existe nem nascimento nem morte; cada um simplesmente permanece como realmente é. Apenas isso é a Verdade.
: É correta a visão Budista de que não existe uma entidade contínua que funcione como uma alma individual? Ela está de acordo com a doutrina Hindu de um ego que reencarna? A alma é uma entidade contínua que reencarna inúmeras vezes, como prega a doutrina Hindu, ou é um mero conglomerado de tendências mentais, como ensina a Budista?
       B.: O Eu Real é contínuo e não é afetado por nada. O ego que reencarna pertence ao plano inferior, o do pensamento. Ele é transcendido pela Auto-Realização.

Às vezes a questão não era a reencarnação em si, mas sim a dor da perda de um ente querido. Uma senhora que veio do norte da Índia perguntou ao Bhagavan se era possível conhecer o estado póstumo de um indivíduo.
      B.: Sim, é possível, mas para que tentar? Esses fatos são tão irreais quanto a pessoa que os vê.
       S.:  O nascimento de uma pessoa e sua vida e morte são reais para nós.
       B.: Sim, como você erroneamente se identifica com o corpo você pensa o outro como sendo um corpo também. Mas nem você nem ele são um corpo.

Na ocasião da morte do Rei George V dois devotos estavam discutindo o assunto no salão, e pareciam chateados. O Bhagavan disse: “O que importa para vocês quem morre ou o que é perdido? Morram vocês mesmos e se percam, tornando-se assim, com a extinção do ego, um com o Eu de todas as coisas.”
       E, finalmente, sobre a importância da morte. As religiões em geral dão importância ao estado mental em que a pessoa morre, e a seus últimos pensamentos antes da morte. Mas o Bhagavan alertava as pessoas que é preciso estar bem preparado antes, caso contrário tendências mentais indesejáveis podem surgir com força demais, não podendo ser controladas.

B.: No Capítulo VIII do Bhagavad Gita é dito que o último pensamento de uma pessoa no momento da morte determina o seu próximo nascimento. Mas é necessário experimentar a Realidade agora, nesta vida, a fim de poder experimentá-la no momento da morte. Reflita se este momento é de qualquer maneira diferente do último momento na morte, e tente estar no estado desejado.



Podemos ver assim, que em diversas culturas, filosofias e religiões a maioria se fala sobre a morte e o renascimento. Se pararmos para analisar mesmo ainda não se perdendo do físico passamos por esse processo de morte e renascimento como a aguia:

A Águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie, vive cerca de 70 anos. Aos 40 anos de idade, suas unhas estão compridas e flexíveis e já não conseguem mais agarrar as presas das quais se alimenta. O bico, alongado e pontiagudo se curva, suas asas tornam-se pesadas em função da grossura de suas penas, estão envelhecidas pelo tempo. Hoje, para a experiente águia, voar já é bem difícil!
Nessa situação a águia só tem duas alternativas:
Deixar-se morrer…ou enfrentar um doloroso processo de renovação que irá durar 150 dias.
Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e lá se recolher em um ninho que esteja próximo a um paredão. Um local Seguro de outros predadores e de onde, para retornar, ela necessite dar um vôo firme e pleno. Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater o seu bico contra a parede até conseguir arrancá-lo, enfrentando, corajosamente, a dor que essa atitude acarreta. Pacientemente, espera o nascer de um novo bico, com o qual irá arrancar as suas velhas unhas. Com as novas unhas ela passa a arrancar as velhas penas. Após cinco meses, “Esta Renascida”, sai para o famoso vôo de renovação, certa da vitória e de estar preparada para viver, então, por mais 30 anos.


Muitas vezes, em nossas vidas, temos que parar e refletir por algum tempo, e dar início a um processo de renovação.
Devemos nos desprender dos pré-conceitos, dos maus costumes, de tudo aquilo que não é mais útil ou importante, para continuarmos a voar. Um vôo de vitória.
Somente Quando livres das barreiras e pesos do passado, poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz.

Destrua o bico do ressentimento, arranque as unhas do medo, retire as velhas penas de suas asas, permitindo o fluir de novos pensamentos.


Alce um lindo vôo para uma nova vida de sonhos e realizações.

Tenha sempre uma meta: “Voe alto e seja Feliz”

Namastê
Lu Perez

Estudo de pesquisa
Luciana Perez

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