Cada
civilização teve a sua abordagem da morte e uma sabedoria própria. A morte foi
considerada em algumas como o limiar de uma grande passagem, uma iniciação, uma
porta dando acesso aos mistérios do mundo, raramente acessíveis aos vivos.
Na
nossa sociedade atual muitos vê a morte como algo ruim e algo no qual não
devemos nem pronunciar.
Porém, em algumas
filosofias como o Budismo Tibetano a morte é vista como uma passagem, uma etapa
num processo bastante mais vasto que engloba nele o nascimento.
Com
a sua experiência milenar, o Budismo pode trazer algumas respostas quanto ao
que nos espera do outro lado da morte e oferecer alguns conselhos sobre como
nos prepararmos e ajudar os outros a preparem-se para esse momento derradeiro.
Os
Budistas desenvolvem pois um sentido das responsabilidades dos seus actos uma
vez que a morte, o estado intermediário e o próximo renascimento dependem
deles.
Contrariamente
a certas teorias postulando que o renascimento é sempre num sentido evolutivo,
o Budismo vê a vida como um fluxo contínuo, por vezes ascendente, por vezes
descendente, em função da natureza positiva ou negativa do nosso karma, ou
seja, da resultante positiva ou negativa das nossas ações. Isto quer dizer que
somos responsáveis pelas nossas reações, do caminho positivo ou negativo que
tomamos e que é muito importante conhecermos as implicações das escolhas que
constantemente temos de fazer na vida.
No
fluxo contínuo da vida, da morte e do renascimento, o Budismo reconhece várias
fases ou bardos. Esta palavra tibetana quer dizer “transição” ou “intermédio”.
Tecnicamente falando, os textos budistas reconhecem quatro ou seis tipos de
bardo, segundo as escolas. Isto quer dizer que no processo contínuo da vida, da
morte e do renascimento, o nosso espírito passa por vários estados. Cada um
deles é passageiro e é nesse sentido que se fala de estados intermediários.
A
apresentação mais simples fala de quatro bardos. Trata-se do bardo da vida que
dura do nascimento até à morte; do bardo do momento da morte que é o processo
de agonia e de cessação das funções vitais; do bardo da vacuidade que
corresponde ao momento em que a consciência faz a experiência da luminosidade
natural do espírito, ou clara luz, e por fim do bardo da existência que
corresponde ao período entre a experiência da clara luz e o renascimento
seguinte.
Segundo o budismo, quais
são então as nossas experiências nos derradeiros instantes da vida que agora
vivemos? O Budismo explica que no momento da concepção a nossa consciência
entra na matriz da mãe e toma como suporte a união das células masculina e
feminina. Nos textos fala-se da essência branca do pai e da essência vermelha
da
mãe como os aspectos subtis dessas duas células que presidiram à nossa
concepção e dizem que essas essências perduram durante toda a nossa vida.
Por
outro lado, tal como o mundo físico exterior, também o nosso corpo é formado
pela interação dos cinco elementos : terra, água, fogo, ar e espaço. No momento
da morte estes cinco elementos dissolvem-se uns nos outros e cada etapa desse
processo é acompanhada por certas sensações particulares.
Por
último, a consciência dissolve-se na vacuidade e é aquilo que consideramos como
sendo a morte, o momento em que o espírito e o corpo se separam. Nesse momento
as essências branca e vermelha de que falámos dissolvem-se no coração.
No
final de todas as dissoluções o moribundo tem a experiência directa da luz
clara, uma luminosidade que foi descrita como uma “aurora imaculada num céu de
Outono perfeitamente limpo”. Essa é a consciência fundamental, a base de todos
os outros níveis de consciência e a única que está sempre presente em todas as
fases do contínuo da existência.
Mas
a maior parte dos seres não reconhecem esta luminosidade, têm medo e perdem
consciência, como se desmaiassem. Este estado de obscuridade dura cerca de três
dias após os quais, pela força dos hábitos mentais, o defunto como que
“renasce” num corpo mental. Este processo de restruturação da consciência marca
o início do bardo da existência.
Durante
a primeira parte do período que decorre entre a morte e a próxima vida – cerca
de quarenta e nove dias, em média – a forma desse corpo mental, bem como todas
as alucinações experimentadas pelo defunto estão relacionadas com a vida que
acabou de deixar.
Na segunda parte, as suas experiências estarão
sobretudo relacionadas com a futura existência. Durante este segundo período
ele irá ter certos presságios indicando a natureza do seu próximo renascimento,
o qual dependerá dos actos anteriores.
Do
ponto de vista dos médicos e enfermeiros, bem como dos familiares e amigos, que
podemos nós fazer para ajudar o doente a fazer face a atravessar todas as fases
da aproximação da morte e os derradeiros instantes de vida?
Quer
a pessoa seja crente ou não, o mais importante é ajudá-la a resolver os
conflitos interiores e exteriores, reconciliar-se com as pessoas a quem fez mal
e perdoar aos que lhe fizeram mal. É bom que ela se desapegue dos bens, do
estatuto social, da fama, da família, em resumo de tudo aquilo de que gosta e
que terá de deixar. Perante a iminência da morte, todas as acções negativas
cometidas com fins mesquinhos deixam-nos roídos pelo remorso. Quem tenha vivido
mal pode morrer torturado pelo remorso e rodeado pelos ódios que acendeu. Será
particularmente difícil ajudar uma pessoa dessas.
Todas
essas coisas que destróem a nossa paz de espírito podem continuar a
torturar-nos durante o estado intermediário, por isso, embora seja importante
ajudar alguém a morrer, é preciso saber que o melhor preparativo para a morte é
viver de um modo honesto e pacífico.
No
que respeita á morte, como aliás a todas as fases da vida, o Budismo afirma
justamente que os nossos atos determinam a natureza das nossas experiências e
portanto, mesmo uma pessoa sem religião, que não seguiu nenhum treino
espiritual particular, mas que viveu sem ódio nem rancor, sem fazer mal aos
seres vivos e com um sentido dos valores humanos de solidariedade e de calor,
que não tenha tido inimizades intensas nem preferências muito marcadas por
certas pessoas, morrerá geralmente em paz, terá um bardo tranquilo e renascerá
numa forma de existência superior.
O
treino Budista de base leva-nos a respeitar esta lei da causalidade das nossas
ações, incita-nos á prática da não-violência e ao desenvolvimento da compaixão,
permitindo-nos ter uma morte serena, em paz com nós mesmos.
No
que respeita aos grandes Mestres, seres cuja mestria do espírito é grande, eles
podem pura e simplesmente nunca perder consciência e guardar intactas todas as
aquisições e as experiências da vida que deixaram. Inúmeras histórias atestam
esta capacidade, como por exemplo, aquela que aparece no filme Kundun, baseado
na auto-biografia do Dalai Lama: quando era muito pequeno o actual Dalai Lama
lembrava-se perfeitamente do sítio onde a sua anterior encarnação tinha
guardado a dentadura postiça, um detalhe que todos desconheciam
Esta
vitória sobre a vida, a morte e o renascimento é precisamente um dos objectivos
da prática Budista e uma conquista que, segundo o ensinamento do Buda, é
perfeitamente acessível a todos aqueles que se dedicam a uma prática de
transformação do espírito, como a que o Budismo propõe.
O Filosofo e médico
norte-americano Raymond Moodyq também nos fala sobre a passagem da morte,
através do estudo e das experiências de quase morte. Querendo desvendar o véu
que separa a vida da morte através dos relatos com as pessoas que quase
morreram aqueles que morreram e retornaram para falar a respeito do que
aconteceu.
No seu livro “Vida Após a
Vida” ele relata várias experiências EQM (experiência de quase morte). Todas
elas acontecidas num momento de uma parada cardíaca com um retorno feliz à
vida, obedeciam ao um mesmo padrão: a pessoa se via fora do corpo com os
médicos tentando revivê-la e o paciente era sugado para dentro de um túnel
escuro (O Vale das Sombras) amplo, profundo, aterrador que se estende até o
infinito. Imediatamente essa paisagem muda e ele vê uma luz no fim do túnel. É
recebido por um Ser de Luz e sua vida passa inteira, tal qual um filme e
ele ouve uma voz e vê um portão fechado. O Ser de Luz avisa-o que se
passar o portão não haverá volta. Naquele momento ele ouve as vozes dos médicos
ou das pessoas queridas que tentam reanimá-lo que dizem: "volta, volta,
volta" e ele retorna à vida.
Podemos também ler os ensinamentos de Ramana
Maharish que respondendo aos seus discipulo sobre este tema morte e
renascimento. Ensinava para
aqueles que eram capazes de compreender a teoria não-dualista em sua forma pura
ele apenas explicava que esta pergunta não surge, pois como o ego não tem uma
existência real agora, também não o terá após a morte. (D =discipulo, B =
Bhagavan (Pai, Mestres).
D.: As ações de uma pessoa nesta vida afetam os seus nascimentos
futuros?
B.: Você nasceu? Por que você se
preocupa com nascimentos futuros? A verdade é que não existe nascimento e nem
morte. Que aquele que nasceu pense sobre a morte e outros consolos para ela.
O Bhagavan, de fato, desencorajava a
preocupação com esses temas metafísicos, já que eles apenas distraem a pessoa
do esforço de realizar o Eu Real aqui e agora.
D.: Dizem que depois da
morte temos a escolha de desfrutar dos nossos méritos ou dos nossos deméritos,
que depende apenas de nossa escolha. Isto é assim
mesmo?
B.: Para que perguntar sobre o que
acontece após a morte? Para que perguntar se você nasceu ou não, se você colhe
os frutos de seu karma passado ou não? Você não terá essas perguntas daqui a
pouco quando estiver dormindo. Por quê? Por acaso você agora é uma pessoa
diferente do que era enquanto dormia? Não, você não é. Descubra porque essas perguntas
não surgem quando você está dormindo.
Ocasionalmente, entretanto, o Bhagavan aceitava
um ponto de vista menos elevado para aqueles que não podiam ater-se à teoria
não-dualista pura.
B: No
Bhagavad Gita Sri Krishna primeiro diz a Arjuna, no Capítulo II, que ninguém
nunca nasceu e depois, no Capítulo IV, que “você e eu já passamos por inúmeras
encarnações. Eu as conheço mas você não.” Qual dessas declarações é verdadeira?
O ensinamento varia de acordo com a compreensão do ouvinte.
Quando Arjuna disse que não iria lutar contra e matar seus parentes e
professores para conquistar o reinado, Sri Krishna disse: “Não é que estes,
você ou eu, não éramos antes, não somos agora, nem seremos depois. Ninguém
nasceu, ninguém morre e não será assim daqui para a frente.” Ele posteriormente
desenvolveu este tema, dizendo que ele havia dado instruções ao Sol e, através
dele, a Ikshvaku; e Arjuna indagou como isso seria possível já que Krishna
havia nascido apenas há alguns anos atrás e eles tinham vivido em eras
passadas. Então Krishna entendeu seu ponto de vista e disse: “Sim, você e eu já
passamos por inúmeras encarnações. Eu as conheço mas você não.”
Essas
declarações parecem contraditórias, mas cada uma é verdadeira de acordo com o
ponto de vista do ouvinte. Cristo também disse “Antes de Abraão ser, eu sou.”
Assim como nos sonhos você acorda depois de
várias experiências novas, também depois da morte um novo corpo é encontrado.
Assim como os rios perdem a sua individualidade quando deságuam no oceano – e
mesmo assim as águas evaporam e descem como chuva de volta para o rio e depois
para o oceano -, os indivíduos também perdem a sua individualidade quando vão
dormir mas retornam novamente de acordo com as suas tendências inatas prévias.
Similarmente, na morte o ser também não é perdido.
.: Como isso?
B.: Veja como uma árvore cresce novamente depois de seus galhos serem cortados.
Enquanto a fonte da vida não é destruída, ela continua crescendo. Da mesma
forma, no momento da morte as tendências latentes retornam ao coração, mas não
são destruídas. É assim que os seres renascem.
No
entanto, de um ponto de vista mais elevado ele responderia:
Em verdade
não existe nem semente nem árvore – existe apenas Ser.
Ocasionalmente
ele explicava o processo mais detalhadamente, mas sempre com a ressalva de que
na verdade só existe o Eu imutável.
D.: Quanto tempo dura o intervalo entre a morte e o
renascimento?
B.: Pode ser longo ou curto,
mas o Homem Realizado não passa por isso; ele é absorvido diretamente pelo Ser
Infinito, segundo a descrição do Brihad Aranyaka Upanishad. Alguns dizem que,
após a morte, aqueles que tomam o caminho da luz não mais renascem, enquanto
que aqueles que tomam o caminho da escuridão renascem depois de ter colhido os
frutos do seu karma (destino auto-produzido) em seus corpos sutis.
Se os méritos e deméritos de um homem são
iguais ele renasce imediatamente na Terra; se os seus méritos superam seus
deméritos ele primeiro vai ao céu em seu corpo sutil, já se seus deméritos
superam seus méritos ele vai primeiro ao inferno. Mas em ambos os casos ele
renasce posteriormente na Terra. Tudo isso é descrito nas escrituras, mas na
verdade não existe nem nascimento nem morte; cada um simplesmente permanece
como realmente é. Apenas isso é a Verdade.
: É correta a visão
Budista de que não existe uma entidade contínua que funcione como uma alma
individual? Ela está de acordo com a doutrina Hindu de um ego que reencarna? A
alma é uma entidade contínua que reencarna inúmeras vezes, como prega a
doutrina Hindu, ou é um mero conglomerado de tendências mentais, como ensina a
Budista?
B.: O Eu Real é contínuo e não é
afetado por nada. O ego que reencarna pertence ao plano inferior, o do
pensamento. Ele é transcendido pela Auto-Realização.
Às vezes a questão não era a reencarnação em
si, mas sim a dor da perda de um ente querido. Uma senhora que veio do norte da
Índia perguntou ao Bhagavan se era possível conhecer o estado póstumo de um
indivíduo.
B.: Sim, é possível, mas para que tentar? Esses fatos são tão irreais quanto a
pessoa que os vê.
S.: O nascimento
de uma pessoa e sua vida e morte são reais para nós.
B.: Sim, como você erroneamente se identifica com o corpo você pensa o outro
como sendo um corpo também. Mas nem você nem ele são um corpo.
Na ocasião da morte do Rei George V dois
devotos estavam discutindo o assunto no salão, e pareciam chateados. O Bhagavan
disse: “O que importa para vocês quem morre ou o que é perdido? Morram vocês
mesmos e se percam, tornando-se assim, com a extinção do ego, um com o Eu de
todas as coisas.”
E,
finalmente, sobre a importância da morte. As religiões em geral dão importância
ao estado mental em que a pessoa morre, e a seus últimos pensamentos antes da
morte. Mas o Bhagavan alertava as pessoas que é preciso estar bem preparado
antes, caso contrário tendências mentais indesejáveis podem surgir com força
demais, não podendo ser controladas.
B.: No Capítulo VIII do
Bhagavad Gita é dito que o último pensamento de uma pessoa no momento da morte
determina o seu próximo nascimento. Mas é necessário experimentar a Realidade
agora, nesta vida, a fim de poder experimentá-la no momento da morte. Reflita
se este momento é de qualquer maneira diferente do último momento na morte, e
tente estar no estado desejado.
Podemos ver assim, que em
diversas culturas, filosofias e religiões a maioria se fala sobre a morte e o
renascimento. Se pararmos para analisar mesmo ainda não se perdendo do físico
passamos por esse processo de morte e renascimento como a aguia:
A Águia é a ave que possui a
maior longevidade da espécie, vive cerca de 70 anos. Aos 40 anos de idade, suas
unhas estão compridas e flexíveis e já não conseguem mais agarrar as presas das
quais se alimenta. O bico, alongado e pontiagudo se curva, suas asas tornam-se
pesadas em função da grossura de suas penas, estão envelhecidas pelo tempo.
Hoje, para a experiente águia, voar já é bem difícil!
Nessa situação a águia só
tem duas alternativas:
Deixar-se morrer…ou enfrentar um doloroso processo de
renovação que irá durar 150 dias.
Esse processo consiste em voar para o alto de
uma montanha e lá se recolher em um ninho que esteja próximo a um paredão. Um
local Seguro de outros predadores e de onde, para retornar, ela necessite dar
um vôo firme e pleno. Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater o seu
bico contra a parede até conseguir arrancá-lo, enfrentando, corajosamente, a dor
que essa atitude acarreta. Pacientemente, espera o nascer de um novo bico, com
o qual irá arrancar as suas velhas unhas. Com as novas unhas ela passa a
arrancar as velhas penas. Após cinco meses, “Esta Renascida”, sai para o famoso
vôo de renovação, certa da vitória e de estar preparada para viver, então, por
mais 30 anos.
Muitas vezes, em nossas vidas, temos que parar e
refletir por algum tempo, e dar início a um processo de renovação.
Devemos nos desprender dos pré-conceitos, dos maus
costumes, de tudo aquilo que não é mais útil ou importante, para continuarmos a
voar. Um vôo de vitória.
Somente Quando livres das barreiras e pesos do
passado, poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre
traz.
Destrua o bico do ressentimento, arranque as unhas do
medo, retire as velhas penas de suas asas, permitindo o fluir de novos
pensamentos.
Alce um lindo vôo para uma nova vida de sonhos e realizações.
Tenha sempre uma meta: “Voe alto e seja Feliz”
Namastê
Lu Perez
Estudo de pesquisa
Luciana Perez