A lógica mandaria começar este estudo analisando os conceitos de "ética" e de "Vida".
Ainda não existe consenso sobre o que é a vida e sobre o que é a ética. São conceitos ainda um tanto vagos, preconceituosos, imprecisos, portanto polêmicos. Por isto optei por uma ordem psicológica. Para tanto, começo por buscar a significação de um termo sânscrito, dharma, o qual, melhor que qualquer outro, pode nos ajudar a entender a ética como um fator essencial à preservação da saúde e da vida do indivíduo e da sociedade.
A palavra dharma deriva da raiz sanscrita dhri, que significa aquilo que dá sustentação ou permanência a um qualquer dos inumeráveis e multifários sistemas que compõem o universo. Um corpo, uma célula, um carro, uma geladeira, um computador, um aparelho de fax, um lar, uma escola, um clube esportivo, um sindicato, uma nação, uma empresa, um átomo, a Humanidade inteira, todos são sistemas. Se um sistema, um órgão ou organismo, uma coisa, está em dharma, continua existindo, mas, se não está, perde a necessária estabilidade, se deteriora e no devido tempo deixa de existir.
Por exemplo, o dharma da água é matar a sede, fluir, molhar... se não mata a sede, não flui, não molha, estará fora de seu dharma, portanto já deixou de ser água.
Qualquer ser que deixou de cumprir a função cósmica para qual existe perde sustentação, entra em entropia, isto é, adoece, se desorganiza, degringola, se desfaz, fenece, perece, se extingue.
Se você usar seu carro corretamente, conforme sugere o "manual do usuário", o manterá sadio, isto é, com bom desempenho, sem problemas e, ainda mais, lhe assegura maior duração. Não é?
Podemos dizer que o bom funcionamento e duração maior de um qualquer equipamento seu depende de você cumprir seu dever (seu dharma) em relação a ele. E se, em vez de ser um qualquer equipamento, for seu corpo, sua mente, suas energias, seu desempenho humano, não é a mesma coisa? Sim, pois seu corpo, sua mente, suas energias são seus equipamentos.
Aliás, os mais preciosos para seu desempenho pessoal. Você, eu, qualquer pessoa permanecemos sadios somente enquanto desempenharmos sabiamente o papel individual, que o divino dramaturgo confiou a cada um no espaçoso palco do universo.
O papel, a tarefa ou dever que nos foi designado é nosso dharma individual.
Chama-se adharma o comportamento destoante, negligente, contrário ao dharma.
Se viver em dharma produz saúde, vigor, bem estar, força, euforia, equilíbrio, harmonia, finalmente, vida, vida em abundância, conforme falou Jesus, viver em adharma produz o oposto, isto é, enfermidade, dor, tristeza,... e isto debilita , tumultua e encurta a vida.
A saúde, dizem os médicos, depende do que eles denominam homeostase, isto é, a estabilidade do meio interno, do organismo em face da normal instabilidade do meio externo no qual vivemos.
Conduzir a vida com retidão, com justiça, em dharma, promove a homeostase. Ao contrário, a conduta amoral ou imoral acaba com ela.
Deu para entender? Essa é uma forma de a Medicina, talvez sem saber, está provando o que os mestres yogis, há milênios, vêm ensinando: nos sistemas biológicos (homens, animais e plantas) a saúde é uma decorrência de uma vida ética. Você e eu somos sistema biológicos, portanto temos que viver em retidão.
E quanto aos sistemas mecânicos (um veículo, a enceradeira, o relógio, o computador...)? Acontece exatamente o mesmo. Só que, aquilo que, nos sistemas biológicos se chama homeostase, nestes outros os técnicos chamam steady state, isto é, "condição estável", que é indispensável ao bom desempenho ou a saúde do aparelho, seja qual for.
Ao afirmar que o salário do pecado é a morte, o apóstolo Paulo lançou as bases daquilo que ousei batizar com o nome de eticoterapia, a qual considera uma vida eticamente mal conduzida, isto é, em "pecado", em contravenção, tão destrutiva quanto veneno, antígeno, célula cancerosa, radical livre, tudo que, dentro de nosso organismo, gera doenças e acaba com a vida.
Da mesma forma, uma vida eticamente bem conduzida funciona como excelente matéria médica, capaz de prevenir, amenizar e curar doenças.
José Hermógenes
Nenhum comentário:
Postar um comentário